TEATRO NA SIPAT

Artigo publicado na Edição de dezembro de 2015 da Revista Proteção

Com bom planejamento e criatividade, teatro empresarial ajuda a fixar conceitos de SST

Ser ou não ser criativo e bem humorado no momento de falar sobre prevenção de acidentes? Essa é a questão!
Não é a seriedade do assunto que deve ser colocada em pauta, pois é indiscutível, mas talvez esteja ai a razão pela qual alguns profissionais do setor ainda resistem em inovar utilizando o teatro e o humor visando sensibilizar as pessoas para prevenção de acidentes no trabalho.

Nos últimos anos têm aumentado consideravelmente o número de empresas que utilizam o teatro – peças teatrais com atores ou com funcionários, palestras animadas, intervenções nos locais de trabalho, programas de auditório e de entrevistas entre outros formatos – como recurso para transmitir as informações e mensagens sobre os mais variados assuntos dentro do âmbito de Segurança do Trabalho. Uma das razões de ordem prática e operacional responsável por este aumento é a necessidade do Técnico de Segurança do Trabalho cumprir uma de suas atividades que, segundo a PORTARIA 3.275, e 21 de Setembro de 1.989, Art. 1º – VI, é a de “promover debates, encontros, campanhas, seminários, palestras, reuniões, treinamentos e utilizar outros recursos de ordem didática e pedagógica com o objetivo de divulgar as normas de segurança e higiene do trabalho, assuntos técnicos, visando evitar acidentes do trabalho, doenças profissionais e do trabalho”. Pra isso ele busca variar a forma de abordagem dos mesmos assuntos em eventos obrigatórios anuais, como SIPAT, por exemplo, a fim de torná-los atrativos, motivando a participação de um número maior de funcionários. Objetivo totalmente louvável, afinal, segundo a DATAPREV, da Previdência Social, em sua última estatística publicada, aconteceram 711.164 acidentes do trabalho no Brasil em 2.011, com 2.884 mortes!

E o que justifica utilizar justamente atividades teatrais criativas e bem humoradas na condução de temas ligados à prevenção de acidentes ou de outros decorrentes como qualidade de vida, DST, AIDS, preservação do meio ambiente, campanhas de saúde, etc.?

O teatro

Como todas as artes, o teatro é a tradução de realidade em  outra forma. Por isso sempre foi utilizado, tanto em encenações trágicas ou em formato de comédia, para criticar hábitos e costumes dos homens, da sociedade. O maior dramaturgo de todos os tempos, William Shakespeare, fez de seus textos grandes espetáculos que provocaram e provocam a reflexão sobre sentimentos e atitudes humanas nas relações interpessoais. Talvez esteja ai um dos motivos do sucesso que suas histórias fazem ainda hoje e farão por muito tempo. Afinal, a arte não envelhece e a temática – relações humanas – é inerente à existência do homem!

Não é diferente das causas do resultado positivo do uso da criatividade através do teatro em treinamentos empresariais.

Quando se planeja um evento e diversas atividades ali são colocadas para transmitirem as informações que visam orientar e conscientizar as pessoas, sabe-se que seus objetivos não se esgotem com sua realização. Por isso essas atividades devem ser entendidas como ações primárias, ou seja, capazes de estimular a continuidade pelo público alvo. E pra isso acontecer três são as estratégias a serem adotadas: o espanto, o encantamento e a mobilização.

Espanto – refere-se às ações de comunicação que superem as expectativas dos participantes, levando conteúdos e formas de modo não esperado, inusitado, surpreendente. Espantar, neste sentido significa promover uma mudança rápida de modo de pensar, permitindo modificações comportamentais quase imediatas. As pessoas, atualmente, espantam-se menos com os fatos novos, em virtude de sua imensa quantidade, e mais com as novas maneiras de apresentar os fatos, ainda que os mesmos sejam antigos e até já sabidos. Todos nós sabíamos, por exemplo, que existiram dinossauros, mas nos espantamos diante da maneira como os mesmos foram apresentados no cinema por Steven Spielberg. Em pedagogia é bastante conhecido o postulado de que a forma comunica muito mais do que o conteúdo. O “como” supera o “que”.

Encantamento – encantar significa ligar afetivamente a pessoa à mensagem que se comunica ou ao meio de comunicação utilizado. Encantamento pressupõe sedução, desejo, apreço. A arte, através de todas as suas formas de manifestação, tem o poder de encantar, e é nisso que reside todo seu poder. O encantamento da escultura, da pintura, da música, do teatro, da literatura, da dança, do esporte, do cinema, é o responsável por seu sucesso e por sua perenidade. Analise e compare a reação de um funcionário ao saber que deverá participar de um treinamento convencional – via palestra ou curso – com a reação que a atividade em questão é na forma de teatro ou similares. Além dessa melhor aceitação do “convite”, o resultado final é muito mais eficaz: imagens e sensações impregnadas em nós por encantamento são permanentes! Daí a grande probabilidade da atividade teatral sensibilizar as pessoas para receberem as informações passadas, pois os dados que não encantam duram pouquíssimo em nossa memória. Pessoas encantadas aprendem mais, produzem melhor, são mais criativas, mais proativas e ligam-se por mais tempo àquilo que as encantou. A utilização das várias manifestações artísticas tem sido cada vez mais estimulada em programas educacionais. As metáforas do teatro provocam mais reflexão e compreensão do que explicações técnicas a respeito dos fatos e valores da vida humana. Uma frase do pintor Pablo Picasso resume bem essa força: “A arte é a mentira que nos permite enxergar a verdade”.

Mobilização – uma pessoa “espantada” e “encantada” precisa agora ser “mobilizada”, isto é, precisa agir! Afinal, o objetivo principal de todo evento interno voltado a Segurança do Trabalho, Saúde ou Qualidade de Vida é a prevenção, que se dá na ação de cada um e do coletivo. Além disso, a grande finalidade da vida não é o conhecimento, mas a ação oriunda dele! Daí a importância de uma continuidade, uma manutenção no dia a dia dos assuntos tratados numa SIPAT, campanha, programa etc.

Movimentos simples como uma boa comunicação visual ou mesmo encenações teatrais curtas podem garantir o link com os objetivos e metas estabelecidas. Foi pensando assim que Eloisa Reis, do setor de Segurança do Trabalho da Voith Serviços Industriais do Brasil procurou pelo teatro: “Por entender que o recado era transmitido de forma descontraída e proporcionar um momento de alegria em um ambiente em que muitas vezes as cobranças são pesadas e hostis.” E acrescenta que: “Nos concentramos em transmitir a mensagem de segurança sempre através de palestras técnicas e esquecemos que nosso público é de culturas diferentes e com o teatro conseguimos conquistar de forma clara e objetiva o intuito a que nos propomos trabalhar na prevenção, as melhores lembranças que temos em nossa vida são da época em que éramos crianças onde ríamos e chorávamos de acordo com nossas emoções. Então acredito que transmitir mensagens técnicas utilizando o teatro como precursor de mudanças é a chave do negócio.” Já Eurípedes Alves de Oliveira, Técnico de Segurança do Trabalho Especializado da Cia. METRO de São Paulo utiliza o teatro “Na busca de quebra de paradigmas, com objetivo de utilização de uma linguagem diferente, tentando sob todas as formas, buscar o interesse do empregado (chão de fábrica) aos assuntos relacionados com Saúde e Prevenção.” E a própria variação de formato que o teatro proporciona faz dele também uma ferramenta extremamente flexível, como destaca Mariangela Mosna Lourenço, Assistente Executiva da Axalta Coating Systems: “Antes de fecharmos qualquer evento, fazemos reuniões para definirmos qual atividade se adéqua mais ao publico, ao horário e ao objetivo do evento. Por isso, já utilizamos peças teatrais mais longas, programas de auditórios que são divertidíssimos e pockets ou intervenções que atendem aquele público que não podem se dirigir até o local da apresentação.”

O custo benefício da contratação do teatro tem se mostrado extremamente compensador não só pelos resultados acima como pela quantidade de pessoas atingidas, maior que em atividades convencionais, como enfatiza Paulo Cesar do Amaral, do Setor de Segurança do Trabalho do Laboratório BIO-VET ao responder se a atividade teatral atingiu os objetivos: “Sim, não só pela presença dos colaboradores (que é além do normal, mas pelos feedbacks que fazemos nos finais das peças. A peça teatral é a melhor forma de prender a atenção e conscientizar os colaboradores.” E pra Sônia Maria Polesel do Setor de Serviço Social da Prensas Schuler o referencial do sucesso foi outro: “Sempre foi, enxergamos isto quando os funcionários pediram para abrir as apresentações para os familiares.”

Porém, como em todo setor de atividade, também existem prestadores de serviços aquém das necessidades que o teatro empresarial exige. Nos últimos anos diversos grupos ou empresas de teatro, atores ou artistas autônomos vêm se aproveitando do crescimento da busca por inovações em eventos corporativos pra adaptar seus trabalhos e atender a essa demanda. Esse movimento trouxe “de tudo”. Em se tratando de comunicação através de atividades teatrais, é necessária formação artística, claro. Mas, aliado a ela, é indispensável ao seu fornecedor conhecimento do mundo corporativo, tanto de áreas administrativas como produtivas, pra se evitar distorções do conteúdo, inadequação da linguagem e estereótipos de comportamento nas encenações. Além disso, descuidos com a produção, como figurinos, adereços e objetos cênicos esdrúxulos ou cenários mal elaborados ou mesmo ausentes, denigrem a imagem do evento e desperdiçam a oportunidade de agregar cultura aos assuntos tratados. E pior: erros desse tipo comprometem os objetivos a que se destina o teatro, como ressalta Adriana Perin, coordenadora Gestão de Pessoas da Coopercentral Aurora Alimentos: “Em algumas apresentações o objetivo foi atingido em outras não. Nos casos que não atingimos o objetivo o fornecedor não conseguiu entender o que queríamos/precisávamos.” E acrescenta: “Não somos contrários às atividades teatrais, porém precisam ser bem planejadas e trabalhadas com bons fornecedores. Caso contrário é tempo e dinheiro perdidos.”

O humor

Com as empresas praticamente obrigadas a promover programas de melhoria contínua em todos os seus setores, o humor torna-se cada vez mais essencial. Afinal, quanto maior a demanda de qualidade, maior a tensão do pessoal tanto de produção quanto de administração. Existem dados mais do que suficientes para comprovar que a crescente pressão sobre o trabalhador afeta negativamente a produtividade, os resultados financeiros finais e os índices de acidentes. Uma quantidade igualmente vasta de pesquisas demonstra os efeitos positivos das risadas e do humor sobre os lucros, devido à redução da tensão e suas consequências, como problemas cardíacos, distúrbios digestivos, gripes e outras doenças e lesões. A comunidade médica é unânime quanto ao fato de que risadas e bom humor ajudam e fazem tão bem à saúde que contribuem para a cura de doenças – vide o resultado do trabalho dos Doutores da Alegria nos hospitais junto a pacientes. Nas organizações não seria diferente. Americana especialista no assunto, A. Meacham afirma em seus artigos que a risada também liberta as pessoas de outro tipo de tensão – a tensão interpessoal". Essa seria a razão porque há tempos muitos consultores altamente qualificados especializaram-se em levar o humor ao local de trabalho. Afinal, rir é um santo remédio!

Veja aqui 10 razões para você rir, saborear o riso e viver muito melhor:

1. Aumenta a harmonia, fortifica os relacionamentos, ajuda a superar as barreiras da comunicação – o humor geralmente cria espaço para a colaboração. As diferenças entre membros de uma equipe, gerentes e assistentes podem ser reduzidas quando eles acham um ponto em comum. Em uma grande empresa, os quatorze membros de uma equipe de trabalho haviam criado um hábito fora do comum: estabeleceram a “meia hora da piada”, sempre após o almoço. No começo, os gerentes acharam que aquilo não passava de comportamento “anti-profissional”, mas quando perceberam que o grupo trabalhava melhor e que os atrasos após o almoço terminaram, aderiram satisfeitos à moda. Em pouco tempo, a coesão e a produtividade aumentaram.

2. Diminui as chances de demissão – pessoas que trabalham em um ambiente positivo, que permite o humor, têm maior tendência de permanecer no emprego e manter relacionamentos. O humor também é o segredo de muitos casamentos bem-sucedidos.

3. Aumenta a produtividade
– está mais do que provado que as pessoas que gostam do que fazem, do ambiente em que trabalham e dos colegas de equipe, produzem mais e melhor.

4. Impulsiona a criatividade
– as pessoas bem-humoradas “colorem as coisas”, não têm medo de parecer bobas de vez em quando, arriscam-se, vêem tudo sob um prisma mais alegre. São, por isso, indicadas para resolver problemas. Com certeza, encontram soluções muitas vezes impensadas pelos outros.

5. Ajuda a controlar o estresse
– por várias razões, o humor reduz a pressão do perfeccionismo e permite um alívio físico das tensões. É uma válvula de escape muito eficiente.

6. É um ótimo exercício para o sistema cardiovascular
– uma boa gargalhada aumenta o nível de respiração, a pressão do sangue e o funcionamento do músculo cardíaco. Quando cessa,tudo volta ao normal. Boas gargalhadas durante o dia permitem esse exercício do sistema cardiovascular.

7. Estimula os órgãos internos
– uma boa risada é uma ótima massagem nos órgãos internos, ajudando-os a trabalhar melhor. Pode auxiliar, inclusive, o funcionamento dos intestinos.A propósito, você sabe o que significa enfezado? Mais do que zangado ou irado, o termo indica alguém cheio de fezes!

8. Estimula o sistema imunológico
– quando o sistema de defesa do nosso organismo está forte, temos menores chances de pegar resfriados, gripes, etc. Nos tornamos mais saudáveis e,como resultado, aproveitamos melhor a vida e realizamos nosso trabalho de maneira satisfatória.

9. Suaviza a dor
– gargalhadas liberam endorfinas! 

10. Além de tudo isso, é divertido
– graças ao humor, somos mais felizes, saudáveis, criativos, produtivos e nossos relacionamentos tornam-se mais agradáveis. As pesquisas mostram ainda que alegria e risadas estimulam a liberação de substâncias químicas como endorfina e adrenalina, aumentando a sensação de bem-estar e a energia. E isso não só abre caminho para idéias e decisões mais criativas, como também as portas para a melhora dos relacionamentos, da auto-estima, da saúde e do desempenho na busca pela prevenção de acidentes e por uma melhor qualidade de vida. Risadas e um bom senso de humor melhoram a capacidade de aprendizado: aprende-se com prazer, mais rápido e fica mais fácil lembrar depois.

Porém, assim como para o teatro, também é essencial o conhecimento do mundo corporativo ao fornecedor do humor pra que ele entenda que não é necessário o uso de palavrões, deboches, caricaturas pejorativas, gestuais invasivos e apelativos. Então, respondendo à questão do título do artigo: sim! E mais que ser, é preciso ser criativo na prevenção de acidentes!

E a receita está dada: atividades teatrais tendo o humor como acessório, com conteúdo idôneo, frutos de pesquisas junto à órgãos oficiais ou profissionais especializados, alinhadas às

necessidades de cada evento, apresentadas por atores profissionais e experientes em atuar no mundo corporativo, numa linguagem e interatividade adequadas e na medida certa, podem ser uma ferramenta de treinamento eficaz em assuntos cuja motivação das pessoas é a chave para a garantia de bons resultados. E a prevenção de acidentes é uma delas.

O autor

Marcos Soares Horta, 56 anos, técnico metalúrgico. Atuou como Chefe de Turno, Contra Mestre e Mestre de produção siderúrgica e em setor de treinamento – COSIPA, Mendes JR. e Aços Villares –, e hoje sócio proprietário, ator profissional, autor e diretor teatral da Seção Demais Suzuki Comunicação, há 19 anos prestando serviços de comunicação teatral para treinamento comportamental.

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