D+ SUZUKI é capa da Revista PROTEÇÃO

Semana de Reflexão

Reportagem de Martina Wartchow – Edição 296 da Revista Proteção

Importante ferramenta para promoção da Segurança e Saúde no Trabalho ainda é distorcida em empresas brasileiras e precisa ser repensada

A SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho) foi oficializada na década de 1970, período em que a média de acidentes e doenças ocupacionais ultrapassou 1,57 milhão. Foi criada com o propósito de desenvolver, dentro das organizações, uma atitude vigilante para reconhecer e corrigir condições e práticas de risco. Para isso, deve promover educação, conscientização e debate entre trabalhadores e entre empregados e empregadores. Outro objetivo é o de fazer um balanço anual das ações de prevenção dentro das empresas. Até hoje, no entanto, a verdadeira razão de existir da ferramenta não é inteiramente compreendida ou aceita pelos envolvidos. Um dos motivos apontados por prevencionistas é a inexistência de uma legislação que deixe claro como ela deve ser utilizada.

A formação deficitária e o perfil inadequado dos responsáveis por sua organização também são citados. Em outras situações, o objetivo é ignorado por empresas que não têm interesse em expor ou debater seus pontos fracos no que diz respeito à Segurança e Saúde no Trabalho. A inexistência de fiscalização e de um envolvimento maior do Ministério do Trabalho é mais um obstáculo apontado. 

Consequentemente, grande parte desses eventos vem sendo transformada numa espécie de confraternização que nem de longe cumpre seu papel. Na visão de especialistas, está mais do que na hora de repensar a SIPAT para que ela atinja seus reais objetivos. A começar pela ampliação da contribuição dos trabalhadores na sua elaboração. A essência da Segurança e Saúde no Trabalho é a prevenção primária, ou seja, o conjunto de ações que visa evitar as doenças e os acidentes ocupacionais. É justamente na prevenção primária que se enquadra a SIPAT. “A Semana é, acima de tudo, uma campanha de segurança. Ela é importante pelos assuntos que trata – ou deveria tratar – e mais importante ainda porque é um espaço, uma parada, um momento para uma grande reflexão sobre a SST dentro de cada organização. Para muitos trabalhadores é uma oportunidade única para ter contato com o assunto”, ressalta o técnico de Segurança do Trabalho ecoordenador do eGroup SESMT, Cosmo Palassio de Moraes Júnior. Entretanto, na avaliação dele, boa parte desses eventos tornou-se uma grande festa, nada mais do que isto. Ele observa que, nesses encontros superficiais, são desenvolvidas atividades, como técnicas de maquilagem, shows e confraternizações, por exemplo, que não fazem o balanço anual da prevenção na empresa, não avaliam os riscos no ambiente e no processo produtivo e nem apontam caminhos para corrigi-los, assim como também não expõem as conquistas já alcançadas nesse sentido. “Cada um faz como pensa que deve, e muita gente vê o evento apenas como uma obrigação prevista em lei da qual deve se livrar. Assim, vemos, por toda parte, semanas tratando de assuntos que pouco ou nada tema ver com SST, semana de três dias, semanas que têm eventos apenas para um turno ou apenas para alguns setores”, cita.

Na visão de Cosmo, muitas organizações agem assim para não ter que tratar de assuntos que consideram problemáticos, “o que demonstra a forma como enxergam o tema”. Mas existem outros motivos para essa distorção. Um deles é a inexistência de uma norma que especifique e detalhe como deve ser organizada uma SIPAT e quais os temas que devem ser tratados. A NR5 apenas atribui à CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) promovê-la anualmente em conjunto com o SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), onde houver. Para tentar reverter essa situação, em agosto de 2015, a Força Sindical solicitou ao Ministério do Trabalho uma regulamentação específica sobre o assunto. A resposta do governo federal veio em março de 2016 com a Nota Técnica 57, mas não a contento segundo o secretário Nacional de Saúde e Segurança no Trabalho da entidade sindica, Arnaldo Gonçalves. “Esperávamos algo que, de fato, desse as diretrizes para o entendimento claro sobre o conceito de uma SIPAT e de forma explícita o conteúdo a se trabalhado. A Nota Técnica, no entanto, permite que o conteúdo a ser abordado continue a ser definido conforme interpretação de cada um”, afirma.

 

Valores

Crenças equivocadas também são apontadas como motivos para a distorção da Semana, Sócio-proprietário, autor e diretor teatral da Seção Demais Suzuki (São Paulo/SP), Marcos Horta acumulou larga experiência como técnico metalúrgico funcionário de empresas siderúrgicas e como instrutor e professor na área antes de seguir o caminho da comunicação teatral em SST.

Na opinião dele, o fato do empregador e empregado, muitas vezes, não darem o devido valor à SIPAT está relacionado, no primeiro caso, geralmente, a questões culturais herdados de um tempo em que a produção era prioridade absoluta e se considerava indevido paralisá-lo para se dizer aquilo que poderia se dito no dia a dia de forma rápida, sem prejuízo às metas eterminadas.

Já no caso dos trabalhadores da área operacional, além destas mesmas questões culturais, Horta acrescenta que a aversão é devida ao fato de que o evento conhecido por eles trata sempre dos mesmos assuntos e de forma desinteressante. No caso de empregados de área administrativa, geralmente, se deve à crença de que prevenção de acidentes é só para o pessoal da produção ou ao entendimento de que “estou sem tempo e não posso parar” ou “sei tudo sobre esse assunto”. “No entanto aqueles que atualizaram seu olhar para o custo-benefício da SIPAT, tanto empregadores quanto empregados, entenderam que um profissional mais preparado, mais consciente e com mais saúde diminui ‘paradas’ maiores na produção e prejuízos causados por incidentes ou afastamentos por doenças”, destaca.

Formação

A formação dos profissionais do SESMT também entra na lista de problemas. Para o engenheiro de Segurança do Trabalho Leonídio Ribeiro Filho, diretor vice-presidente da ABPA (Associação Brasileira para Prevenção de Acidentes) de São Paulo, o evento não vem cumprindo seu papel pela não compreensão dos cipeiros – tanto representantes do empregador como dos empregados – quanto às suas atribuições.

Com experiência de auditoria fiscal, visitas técnicas, reuniões e palestras em várias empresas, ele avalia que a situação da SIPAT não mudou na última década, pelo contrário, até piorou tendo em vista a má formação de técnicos e engenheiros de Segurança do Trabalho em cursos defasados. “Para se ter uma idéia de como é ultrapassado o curso de EST, a disciplina de Psicologia, Comunicação e Treinamento tem somente 15 horas aula quando esses itens são os mais importantes para a otimização da Semana”, exemplifica.

Outro obstáculo citado por Leonídio é o fato de que, no treinamento previsto na NR 5, nenhum dos itens enfoca a Semana. O engenheiro observa que, além da formação precária, os integrantes do SESMT não têm uma interface adequada com a CIPA, consequentemente, não ocorre o devido cumprimento da NR 4 (SESMT): manter permanente relacionamento com a Comissão, valendo-se ao máximo de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la; e promover atividades de conscientização, educação e orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais por meio de campanhas e programas permanentes. “Temas e idéias ara a SIPAT poderiam se conseguidos se os profissionais, nos cursos para cipeiros, promovessem que o integrante da CIPA deve ter a atitude de aplicar, na área sob sua responsabilidade, uma gestão baseada na sua própria percepção e nos seus conhecimentos práticos”, observa.

Estabilidade

A estabilidade do cipeiro é outra questão a ser considerada. Na opinião de Leonídio, ela provoca o candidato a membro da Comissão a querer participar, não para colocar em prática as suas atribuições, mas pra garantir seu emprego e, muitas vezes, também para defender questões administrativas ou ideológicas. O engenheiro ainda vê como problema o atual perfil do auditor fiscal do Trabalho. “A maioria deles não é mais especializada em Segurança e Medicina do Trabalho e, portanto, é carente de qualificação para cumprir o seu papel de orientar sobre o que realmente é a Semana e como ela pode atingir seus objetivos”, acredita.

Lembrando que quase 99% das empresas brasileiras são micro e pequenas, com menos de 100 funcionários, sem assistência de profissionais de SST, o prevencionista afirma que o AFT deveria orientar a eleição e marcar a sua inspeção oficial quando de uma reunião de CIPA e, principalmente, se fazer presente nas SIPATs. “Todas essas questões influenciam os trabalhadores que não ficam motivados a dar contribuições e a participar ativamente”, avalia Leonídio. Para ele, como tudo que ocorre no Brasil, a causa-raiz do problema está na educação e, portanto, é urgente a reformulação dos cursos de EST e de TST, “aumentando sua carga horária, gerando discussão de casos, minimizando a sua comercialização”.Ele também defende a modernização da SIPAT e a reativação da SPAT (Semana de Prevenção de Acidentes do Trabalho), antigamente organizada pelas então delegacias regionais do Ministério do Trabalho.

Revisão

A ideia da mudança tem mais adeptos. O psicólogo do Trabalho Mário César Ferreira, doutor e pós-doutor em Ergonomia da Atividade Aplicada à Qualidade de Vida no Trabalho, vê como muito importante a exigência da existência e do cumprimento de um evento como a SIPAT, para se refletir sobre a relação trabalho, saúde e segurança, mas defende que seja revista. A começar, pelo nome, que, na visão dele, revela uma concepção reducionista com ênfase no acidente de trabalho. “Hoje, a doença é um elemento tão importante quanto a o acidente”, justifica.

Para ele, o primeiro passo seria mudar o nome para Semana de Reflexão e Planejamento em Qualidade de Vida no Trabalho. “Qualidade de vida no trabalho é um tema guarda-chuva, que abrange tudo: segurança, saúde, vigilância, assistência, promoção”, lista. Como passo seguinte, o psicólogo defende que o evento ganhe um caráter e objetivos de reflexão e planejamento de ações no campo da SST. “A gente não faz prevenção sem conhecimento rigoroso, científico, da realidade de trabalho pra poder identificar, não apenas aquilo que está negativo e que coloca em risco quem está dentro da organização, mas, também para identificar aspectos que são positivos, experiências bem-sucedidas, e que da mesma forma, precisam ser reconhecidos e divulgados. Fazer ações com base no “achismo” tem fôlego curto, baixa sustentabilidade”, alerta.

Na opinião dele, empresários, gestores, dirigentes – inclusive dirigentes sindicais representantes dos trabalhadores – têm que rever a posição desse evento numa perspectiva de transformação efetiva dos ambientes de trabalho. Ferreira considera necessário – e uma via de mão dupla – que o mundo empresarial se aproxime mais do mundo acadêmico para troca de experiências e informações sobre SST, inclusive para a elaboração de uma SIPAT. “Seria importante fazer parcerias com universidades e com institutos de pesquisas. Temos aí um potencial de cooperação enorme que é muito pouco explorado na realidade brasileira”, avalia.
Como exemplo, ele cita o caso de uma empresa com problemas de assédio moral. “A gente tem hoje no Brasil pesquisas, não estritamente acadêmicas, mas de natureza aplicada, sobre esse assunto que poderiam ser úteis na solução do problema”, comenta. Acrescenta que também poderiam ser feitas parcerias no âmbito do diagnóstico. Observa no entanto, que o empresariado do setor privado é muito fechado. “Isso é problema inclusive para o pessoal da universidade e para os próprios empresários, pois capitalismo moderno, capitalismo sustentável, não pode estar fechado desse jeito”, define.

Passo a passo para o sucesso

Não há fórmula única para organizar a SIPAT, mas há critérios importantes

Fazer com que uma SIPAT cumpra seu verdadeiro papel e, ainda por cima, de forma atraente ao seu público são desafios que precisam ser encarados com muita atenção por seus organizadores – CIPA e SESMT -, desde a escolha do conteúdo a ser abordado até a forma de apresenta-lo. A definição da data também é importante, e, conforme a lei, cabe a cada empresa escolher o melhor período do ano.

O psicólogo do Trabalho Mário César Ferreira é favorável a essa livre escolha. “A Ergonomia ensina que, regra geral, a padronização mais atrapalha do que facilita, promove mais mal-estar do que bem-estar”, observa, destacando que os perfis e as realidades das empresas são muito diferentes. “No setor bancário,talvez o melhor período seja um, na indústria frigorífica talvez seja outro”, complementa.

Com a data escolhida, é preciso definir a programação. A Nota Técnica nº 57/2016 do Ministério do Trabalho registra que, na escolha dos temas, a melhor orientação é ade observar as atribuições da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – descritas na NR 5 -, cuja missão é prevenir os acidentes e as doenças do trabalho (…) “Podem ocorrer capacitações relacionadas aos mapas de riscos, rodas de debates em relação aos riscos existentes no processo de trabalho, discussões sobre riscos ainda não identificados pelo SESMT ou pela CIPA, palestras específicas sobre normas regulamentadoras, capacitação para identificação de riscos graves e iminentes, dentre vários outros. (…) Já para apresentação dos assuntos, o documento orienta a adoção de diferentes instrumentos, sejam palestras, dinâmicas de grupo, grupos de debate orientado, mesas redondas, etc.

 

CONSULTA

Não há uma fórmula única de organizar uma SIPAT para que ela alcance suas metas, mas é preciso seguir passos importantes. Ferreira acredita que um evento dessa natureza tem que partir de uma consulta ao coletivo, às pessoas que trabalham na organização, para definir sobre o que é necessário refletir e evitar atividades que fujam da proposta. Um exemplo clássico que ele considera equivocado são as palestras motivacionais muitas vezes oferecidas durante a Semana. Para ele, tal iniciativa vai na contramão do que preconizar a área prevencionista, porque, na prática, diz aos trabalhadores que precisam se animar para trabalhar melhor porque o problema são eles. “É como se a política de gestão e organização do trabalho não tivesse responsabilidade pela ausência de motivação, consequência, por exemplo, de condições de trabalho precárias, falta de material, de equipamento, de conhecimento, assédio moral no trabalho. É todo um cenário, com valores e culturas, que estão na origem dos problemas de SST. Por isso, a importância de se fazer algo de natureza participativa”, avalia.

Outro importante passo na organização da SIPAT, segundo o técnico de segurança Cosmo Palasio de Moraes Júnior, é fazer um diagnóstico levando em conta quais são os principais problemas existentes naquele local de trabalho. “Uma boa lida no PPRA (Programa de Prevenção de Riscos Ambientais) ou no PCMAT (Programa de Condições e Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção) é um bom começo”, exemplifica. Os dados de acidentes e doenças ocupacionais ocorridos em determinado período, a matéria-prima utilizada pela empresa, o processo produtivo, a carga horária, a jornada de turno e returno também são subsídios a serem utilizados conforme o secretário nacional de Saúde e Segurança no Trabalho da Força Sindical, Arnaldo Gonçalves. Os resultados alcançados na empresa com suas ações de SST são mais um item a ser levado em conta na opinião do engenheiro de Segurança do Trabalho Leonídio Ribeiro Filho. Feitos a consulta aos trabalhadores e o diagnóstico, os próximos passos são planejar e definir os temas da programação do eventoe como desenvolvê-los.


ATIVIDADES

Existem diferentes formas de trabalhar os assuntos de uma SIPAT, e a maioria delas envolve baixo orçamento e, muitas vezes, nenhum custo. Além de atividades clássicas, como debates e mesas redondas sobre prevenção, podem ser feitas atividades culturais, de reflexão e relatos de estilo de vida saudável na visão de Ferreira. “Ajudar um trabalhador a mudar seu estilo de vida no sentido da saúde, a lidar com as finanças pessoais e com o meio ambiente é bom para ele, para a empresa e a sociedade”, justifica.

O psicólogo acrescenta que também é possível organizar uma Semana específica pra fazer um diagnóstico mais profundo de uma determinada área ou um setor mais problemático da empresa, usando técnicas de grupo focal. Outra ideia é abrir um espaço para que os trabalhadores falem aos colegas sobre coo conseguem desenvolver seu trabalho bem e de forma segura, principalmente quem tem mais tempo de empresa. Trazer experiências externas de prevenção é mais uma sugestão, porque as situações se reproduzem de uma empresa para outra, tanto no negativo quanto no positivo.

“Um evento como a SIPAT convoca a inteligência dos seus organizadores e dos participantes a pensarem coisas criativas além do arroz com feijão que a gente conhece, que á mesa redonda, debate a palestra. Existe um cardápio amplo de possibilidades para mudar o caráter da Semana e fazer com que ela realmente vá ao encontro da prevenção de acidentes e agravos à saúde dos trabalhadores”, ressalta.

 

Teatro

Uma ferramenta que vem ganhando cada vez mais espaço e trazendo resultados positivos é a comunicação teatral. As artes cênicas passaram a fazer parte da vida do sócio proprietário da Seção Demais Suzuki, Marcos Horta, como consequência da forma performática com que ele difundia informações em seus grupos de trabalho enquanto funcionário na área siderúrgica e educador. Esse dom o levou a um convite para escrever uma peça para uma SIPAT em uma das empresas em que trabalhou e que tinha altos índices de acidentes de trabalho. 

O resultado foi tão positivo no que diz respeito à apreciação do público e à redução do número de ocorrências que ele nunca mais parou. Sua empresa de comunicação teatral, com sede em Santo André/SP, existe há mais de 20 anos.

“Como todas as artes, o teatro é a tradução da realidade em outra forma. Por isso, sempre foi utilizado, tanto em encenações trágicas ou em formato de comédia, para criticar hábitos e costumes das pessoas, da sociedade”, explica. Nesse tio de atividade, o humor se faz bastante presente, o que tem razão de ser.

Horta afirma que, além de evitar que a crescente pressão sobre o trabalhador afete negativamente sua produtividade, os resultados financeiros da empresa e os índices de acidentes, a risada liberta as pessoas da tensão interpessoal. “Essas são as razões pelas quais, há tempos, vários consultores altamente qualificados especializaram-se em levar o humor ao local de trabalho. Afinal, rir é um santo remédio”, complementa.

Nessas duas décadas atuando como comunicador teatral, o principal resultado que observa e recebe como feedback dos clientes é o aumento considerável de pessoas interessadas na Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho. “Porque se sabe que o teatro irá tratar os temas, na sua grande maioria já conhecidos do público, de forma original e atrativa. E isso é extremamente relevante, porque a boa receptividade ao que será apresentado aumenta a possibilidade de resultados no dia a dia, afirma.


CUIDADOS

É preciso, no entanto, ter cuidado com o que o mercado disponibiliza. “Em se tratando de comunicação por meio de artes cênicas, é necessária formação artística, claro, mas, aliado a isso, é indispensável ao seu executor conhecimento do mundo corporativo. Tanto de áreas administrativas como produtivas, para se evitar distorções ou mesmo falta de conteúdo, uso de linguagem grosseira, de humor chulo e estereótipos de comportamento nas encenações”, alerta. Horta complementa que figurinos, adereços, objetos cênicos e cenários mal elaborados denigrem a imagem do evento e ainda desperdiçam a oportunidade de agregar cultura aos assuntos tratados. “São erros desse tipo que comprometem os objetivos de se utilizar as artes cênicas na SIPAT ou em qualquer evento de sensibilização das pessoas”, ressalta.

Palestras dinâmicas e interativas sobre saúde e qualidade de vida no trabalho também mantêm a atenção dos participantes da Semana e contribuem para a prevenção de doenças e acidentes ocupacionais. Há mais de 20 anos, o Grupo Saúde e Vida (São Bernardo do Campo/SP) presta esse serviço gratuitamente em empresas e escolas de todo Brasil. Um dos campos de atuação são as SIPATs. “Nossas palestras duram em torno de 60 minutos e são diferenciadas, pois, com linguagem de fácil entendimento e muita interatividade com o público, conseguimos mostrar o quão importante é a prevenção na vida de cada trabalhador e de seus familiares”, afirma o diretor da empresa e um dos palestrantes, o cirurgião dentista

Ivan Camargo Júnior, especialista em Educação em Saúde. Segundo ele, o Grupo tem demonstrado às empresasque a realização dessas atividades preventivas, além de cumprir uma norma, tem incentivado os trabalhadores a buscarem o caminho da SST. “Por meio de pesquisas após as palestras, verificamos que a sensação de valorização por parte dos colaboradores é muito alta”, complementa.


DELIBERAÇÕES

Encerrada a Semana, os passos seguintes devem ser as deliberações concretas, a serem encaminhadas pelas instâncias competentes, de medidas a serem implementadas em termos de projeto, estabelecendo-se indicadores de monitoramento. “A SIPAT, então, seria uma espécie de brainstorm, um evento de ideias, de questões trabalhadas posteriormente, com o tempo devido, com a técnica devida, e executadas para que, numa outra edição, os resultados possam ser avaliados”, complementa Ferreira. Na opinião do psicólogo, dessa forma, o evento teria respeitabilidade e confiabilidade para todos, sejam trabalhadores, dirigentes, gestores, representantes sindicais e, inclusive, sociedade.

Horta destaca que as atividades desenvolvidas durante a Semana devem ser entendidas como ações primárias capazes de divulgar e estimular a continuidade pelo público-alvo após sua realização ou ações de manutenção capazes de manter viva a importância dos assuntos. “Todo comportamento estimulado durante o evento precisa ter respaldo no dia a dia da empresa, com apoio de chefias e suporte da CIPA e do SESMT. Quando isso não ocorre, por mais que o funcionário tenha se sensibilizado, a rotina ou mesmo algumas orientações funcionais desestimulam mudanças de atitude”, afirma. Ressalta, ainda, que não se deve esperar a SIPAT para tratar de assuntos que exigem ações imediatas a serem aplicadas no dia a dia das organizações.

Uma campanha para todos

Indústria, serviços, agropecuária e setor público têm boas experiências

A SIPAT é um evento que vai além do meio urbano, seja nas indústrias, no comércio ou nos serviços. Ela também alcança os trabalhadores do meio rural.

A essência do trabalho é a mesma para todos esses segmentos, ou seja, a disseminação da cultura da SST. Algumas atividades práticas também são semelhantes, mas é preciso observar detalhes que diferem na hora de organizar e colocar a programação em prática. “!o trabalhador da área rural tem pouco acesso à informação, então, toda orientação deve ser transmitida de forma mais intensa, sempre com uma linguagem de fácil entendimento”, destaca o engenheiro agrônomo e de Segurança do Trabalho e ergonomista Celso Henrique Justino de Oliveira.

Oliveira tem grande experiência em SST na agropecuária. Entre suas atividades profissionais, está a de responsável técnico em uma das unidades do Grupo Predilecta Alimentos, a Só Fruta alimentos, em Guaíra/SP. A empresa possui equipe de campo na produção de matéria-prima (milho e tomate) e um confinamento de bovinos no qual utiliza os resíduos do processo – palha, sabugos de milho e restos de grãos – para alimentação animal. O engenheiro também presta consultoria a empresas do segmento de colheita e tratos culturais nas lavouras (preparo de solo, aplicação de defensivos, etc). Segundo ele, as atividades da Semana no meio rural devem ser bem focadas na área, pois o agricultor está distante de qualquer atendimento e, muitas vezes, trabalha sozinho, sendo ele próprio seu principal fiscalizador. Por isso, precisa atuar de forma consciente para evitar acidentes. Também é importante o foco no seu modo de vida. “A prevenção que o empregado rural aplica em seu trabalho pode ser também aplicada no seu cotidiano, e o conhecimento passado de pai para filho”, complementa.

Oliveira frisa que a troca de informações durante o evento no campo precisa ocorrer de maneira didática e a linguagem deve ser de fácil compreensão. Entre as ferramentas que podem ser utilizadas, constam dinâmicas de grupos, apresentações teatrais, atividades lúdicas, palestras e bate-papos. “Todas essas ações são importantes para o empregado e o empregador, pois, de maneira informal, fortalecem o elo da segurança do trabalhador, fazendo com que ele tenha consciência de que todas as ações realizadas durante a Semana são para seu próprio benefício”, avalia. O engenheiro ressalta que, para cada grupo de empregados e cada função, existe uma maneira singular de abordagem, “por isso, a importância de realiza a Semana com conhecimento e qualidade”. Entre os resultados já alcançados com as iniciativas, ele cita a redução do número de acidentes e a satisfação pessoal dos trabalhadores, que passam a se sentir parte do processo produtivo e ter autoconsciência da importância da prevenção para a proteção de sua principal ferramenta de trabalho, ele mesmo.


INDÚSTRIA

No meio industrial, a unidade de Caixas do Sul/RS da Sulbras Moldes e Plásticos é um case de sucesso da SIPAT. A organização do evento começa com os integrantes da CIPA e do SESMT buscando ciência sobre quais informações são necessárias aos colaboradores e quais os riscos de acidentes precisam ser prevenidos. Para avaliar quais os temas estão relacionados à SST, são ouvidos também os colaboradores. Dados como indicadores de acidentes e doenças ainda são avaliados para verificação da real necessidade dos trabalhadores e definição das prioridades a serem enfocadas no evento. “Com essas informações em mãos, fica mais fácil definir qual o objetivo e o foco da Semana e as ações a serem executadas, assim como as metodologias de aprendizagem a serem aplicadas”, afirma a técnica de Segurança do Trabalho da empresa Glaucia Oschoski. O passo seguinte é a divulgação, para incentivar os colaboradores à participação. O endomarketing é uma das ferramentas utilizadas. “É preciso que empregador, SESMT e CIPA acreditem e se empenhem para alcançar as metas propostas, buscando a mobilização dos demais colaboradores”, complementa.

Glaucia relata que, na Sulbras, são usadas metodologias que auxiliam no planejamento da SIPAT e a manter o foco no objetivo principal. Já durante a Semana para explanação dos assuntos escolhidos, são utilizadas técnicas diversas de aprendizagem. Procura-se incluir nas programações palestras sobre temas variados, como prevenção de acidentes ocupacionais, primeiros socorros, saúde bucal, planejamento orçamentário, tabagismo, prevenção contra o uso de drogas, alcoolismo e DSTs. “Assuntos relacionados à qualidade de vida dos colaboradores também são abordados, porque podem significar a prevenção a riscos de acidentes e doenças do trabalho”, ressalta. Desde 2012, outras atividades vêm sendo introduzidas e atraindo ainda mais os funcionários à participação, como teatro, composição de paródias musicais e oficinas temáticas. “A criatividade é fundamental para despertar o interesse dos colaboradores e facilitar a aprendizagem”, afirma. Ao final das SIPATs na empresa, é feita uma avaliação para verificar se os objetivos foram alcançados. Durante o ano, são promovidos eventos e treinamentos que colaboram para complementar o objetivo inicial explorada na Semana Interna.


SERVIÇOS

O sistema bancário também tem exemplos positivos. Na Caixa, empresa pública, as ações da SIPAT são norteadas por um tema central e um slogan que abrange saúde física, emocional, profissional, social e intelectual com foco na melhoria da saúde e do bem-estar dos empregados. O tema é definido pela área gestora de SST por meio da análise dos relatórios estatísticos de afastamentos, de licenças médicas, do PCMSO e de acidentes de trabalho. Já a escolha do slogan, desde 2012, ocorre por meio de votação após seleção das sugestões elaboradas pelos funcionários. Para este ano, o escolhido foi Hábitos Saudáveis. Agora, Vida Saudável no Futuro! “Observamos que a melhor maneira de organizar a Semana da Caixa é ‘chamando’ os empregados a participarem do planejamento e da construção. Assim, eles se sentem participantes do processo, o que gera maior engajamento nas atividades propostas. O apoio institucional também é importante”, afirma a gerente nacional dos Serviços Compartilhados de Gestão de Pessoas da instituição financeira, Ana Sousa.

Com a abrangência em todo o país, as ações da Semana, a partir da definição do tema central, são pensadas de forma a alcançarem a maior quantidade de unidades possível, não se limitando às capitais. Ana explica que a área de SST elabora um projeto com as diretrizes para a Semana e busca apoio operacional das filiais de Gestão de Pessoas nos estados para colocar em prática as ações planejadas. Para se alcançar uma elevada participação, é elaborado um plano de comunicação que utiliza os canais disponíveis na empresa, como fóruns eletrônicos, transmissão de vídeos via internet, divulgação de informações em portal e intranet. “Além do plano de comunicação, é importante buscar o engajamento dos gestores nas ações e na mobilização de suas equipes”, ressalta.

Ao longo do evento, são desenvolvidas atividades variadas em diversas unidades do banco, como palestras com profissionais especializados em áreas específicas, oficinas de trabalho, apresentações teatrais, ginástica laboral e testes de glicemia. Neste ano, os colaboradores serão incentivados a participarem de caminhadas e corridas por meio da plataforma digital Caixa nas Ruas. Eles também serão convidados a postarem receitas de alimentação saudável. Entre os resultados que vêm sendo conquistados, Ana cita o fortalecimento da SIPAT com engajamento das lideranças e a participação crescente de empregados e, consequentemente, a redução dos afastamentos dos colaboradores por acidente ou doença ocupacional. No banco, além da Semana anual, são feitas, ao longo do ano, campanhas de saúde para fomentar informações sobre SST como subsídio para a conscientização.


SERVIDORES

A cultura da prevenção de acidentes e doenças ocupacionais vem sendo, gradativamente, disseminada junto aos serviços públicos municipais, estaduais e federais. As atividades envolvem, eu sua maioria, trabalhadores que não pertencem ao regime celetistas, que é obrigado por lei a seguir as NRs do Ministério da prefeitura de Rio Grande / RS, que, em junho, promoveu sua 1ª SIPAT, com o tema Semeando a Cultura da Prevenção. A iniciativa partiu do NESO (Núcleo de Engenharia e Segurança Ocupacional), que vem sendo estruturado pelo município. “esta primeira edição foi desenvolvida com os objetivos de encurtar distâncias entre os trabalhadores e os profissionais de Segurança do Trabalho, orientar sobre a importância da prevenção de acidentes e da identificação dos riscos inerentes às diversas atividades laborais, além de fazer com que os servidores e os terceirizados resgatem valores esquecidos pelo corre-corre do dia a dia; que eles não tenham somente a ideia de segurança, mas que pratiquem de fato”, afirma a dirigente do Núcleo, a engenheira de Segurança do Trabalho Alessandra Leal.

O evento foi idealizado para abranger todos os trabalhadores da prefeitura e ocorreu em locais estratégicos, agrupando aqueles que exercem atividades afins, com riscos ocupacionais similares. Participaram 320 pessoas, a maioria lotada nas secretarias operacionais, cujas atividades estão voltadas para infraestrutura urbana, limpeza pública, arborização, sinalização viária, horto florestal e serviços administrativos. A programação incluiu palestras sobre assédio moral, acidente de trabalho versus fator comportamental, animais peçonhentos, DSTs, direção defensiva e primeiros socorros. Palestraram profissionais do próprio quadro, como técnico de Segurança do Trabalho, bioquímico, veterinário e enfermeiros, além de profissionais de entidades apoiadoras, como CerestMacrosul, Ecosul, Sest/Senat e Polícia Rodoviária Estadual. No decorrer das atividades, também foram divulgadas Dicas do Protegildo, da Revista Proteção, e Dicas de Emergência, da Revista Emergência. “Ao propormos ações voltadas à saúde e Segurança Ocupacional no setor público, buscamos integrar trabalhadores, assegurando a todos o direito a um ambiente salubre, independentemente do regime jurídico a que pertençam”, observa.

Alessandra observa que o Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Rio Grande, instituído pela Lei Municipal 5.819, de 7 de novembro de 2003, em sua Subseção VI, remete as ações de Saúde e Segurança no Trabalho a normas legais e regulamentares disponíveis aos trabalhadores em geral. “Com a estruturação do NESO, juntamente com o NASO (Núcleo de Assistência em Saúde Ocupacional), a prefeitura tem o propósito de compor um SESMT e assim oferecer uma melhor qualidade de vida aos servidores”, adianta. Ela complementa que, na condição de servidores concursados, o NESO possui em seu quadro dois engenheiros de Segurança do Trabalho e quatro TSTs e o NASO, uma médica do Trabalho, uma psicóloga e uma assistente social.

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